Darren Manning, director do Programa para a Desminagem Humanitária do Departamento de Estado dos EUA para a região subsaariana de África
Quais são os objectivos da sua visita a Angola?
Como deve saber, os Estados Unidos da América são uma das grandes potências que se interessam pela desminagem em todo o mundo e Angola constitui um dos países onde temos programas relativamente a isso. Há mais de 20 anos que há uma relação entre os Estados Unidos e Angola e, portanto, vai haver uma efeméride que vai celebrar esta cooperação. Nós estamos interessados no campo da desminagem aqui em Angola. Temos uma enorme assistência para o programa de desminagem de mais de meio milhão. Estes programas de desminagem são realizados por várias organizações como a The Halo Trust, o Grupo de Aconselhadores de Desminagem e o NPZ (organização de ajuda norueguesa), é uma organização que realiza este programa de desminagem. O objectivo principal desta visita é ver o que está a ser feito e também a forma de como podemos ajudar o povo de Angola. E a nossa viagem foi marcada por uma visita a todos os lugares onde os programas se efectuam para sabermos o que foi feito no passado, o que está a ser feito no presente e o que será no futuro.
E o que constatou ao nível das províncias que visitou, qual é a situação?
Foram feitos progressos enormes, nos últimos cinco anos e, apesar de ainda faltar muito por se fazer, os parceiros da desminagem mostraram-nos que há ainda bastantes campos para serem desminados. Mas também estão a ser construídos bastantes edifícios, casas para as pessoas habitarem e já não há minas em muitos campos. Os Estados Unidos conhecem a dimensão real do problema da desminagem em Angola?
O país esteve quase 30 anos emguerra… Nós conhecemos, estamos familiarizados com os problemas de Angola, e por isso é que estamos aqui desde 1994. Nós estamos a apoiar desde o fim da guerra o programa de desminagem. E Angola constitui o terceiro maior programa dos Estados Unidos, relativamente à desminagem, comparado com a assistência que nós damos ao Afeganistão e ao Iraque.
E quanto é que os Estados Unidos já despenderam nestes programas desde 1994 até agora em termos de valor?
Mais ou menos acima dos 100 milhões de dólares.
E como é que estão a ser desenvolvidos os projectos, onde? A participação das autoridades angolanas satisfaz?
Nós temos alguns grupos que trabalham na província de Malange, Uíge, Zaire, Moxico, Kuando-Kubango, Bié, Huambo, Benguela e na Huíla.
Em qual destas províncias a situação é crítica ainda?
Todas estas províncias são críticas mas no Huambo vimos que o trabalho foi desenvolvido com bastante eficácia e Malange recebeu muita atenção. As duas piores províncias são o Moxico e o Kuando-Kubango por causa das minas que ainda existem lá. Estas duas províncias foram locais de muita guerra e também as pessoas passavam muito por lá. Isto também se passa porque o foco da desminagem era o Bié, Malange e Luanda e depois é que se ia para as outras províncias.
Estes projectos que vocês financiam vão continuar, incluem, por exemplo, a recuperação das vítimas?
Durante os primórdios dos anos 90 os EUA tinham um programa que apoiava as vítimas das minas. Estes programas eram programas que ajudavam as pessoas a ter próteses e também ajudavam na reintegração da vida destas pessoas. Nós agora estamos focados em remover as minas para que não haja mais acidentes e para que estas situações não venham a acontecer mais.
De que forma é que está a ser realizado este trabalho de remoção? Estão a utilizar novas tecnologias?
Ao fim ao cabo as pessoas têm que remover as minas. No princípio era assim, mas agora nós destruímos as minas já no local. Não existe uma solução milagrosa mas existe o detector de minas e, depois de ser detectada, ela é explodida e são os angolanos que estão a fazer este trabalho e estão a limpar, também ajudando as comunidades.
Daquilo que sabe da desminagem em Angola, quanto tempo ainda levará para que o país esteja livre das minas?
Está a ser melhor a cada dia que passa mas ainda serão precisos bastantes anos.
Perfil:
Darren Manning é o director do Programa para a Desminagem Humanitária do Departamento de Estado para a região subsaariana de África, que inclui os programas de desminagem humanitária em curso em Angola, República Democrática do Congo, Moçambique e Zimbabwe.Darren Manning ocupa o actual cargo desde 2009 e realiza visitas de avaliação aos programas em Angola (esta é a quinta visita). É mestrado em assuntos internacionais pela Universidade de Texas A&M e tem uma licenciatura em Economia e Relações Internacionais da Universidade de Delaware.
in O País de 22.05.2013
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