terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Prova geograficamente mutilada


Apesar de o Girabola se ter constituído, no princípio da sua vigência, naquilo que na época se chamou factor de Unidade Nacional, nota-se que geograficamente ainda não tem uma expressão nacional. No campeonato que hoje tem início, apenas nove províncias estarão nele representadas, o que não deixa de ser uma aberração num universo de 18.

Nove províncias representam uma percentagem 50 porcento do espaço territorial, o que acaba por ser revelação de algum subdesenvolvimento futebolístico no resto do país, situação que não deve deixar de preocupar os agentes desportivos, se o objectivo for colocar a médio ou curto prazo o país ao nível dos outros países africanos, em termos da população praticante. Mas, podemos encontrar no factor guerra que durante muitos anos assolou o país, a explicação para este centralismo. 

Pois, o potencial económico em muitas províncias, que já falavam alto no “parlamento” do futebol nacional se viu afectado. Sendo o dinheiro factor determinante para o desenvolvimento desportivo, é bem verdade que na sua falta as acções de massificação possam ficar comprometidas. A província de Luanda, que se vai fazer representar no campeonato com oito equipas inscritas, vale-se da sua condição de estabilidade. Aliás, a expressividade numérica da capital no Girabola já se faz sentir desde os anos 80.

Tirando partido do seu potencial industrial, Lunada soube sempre sobrepor-se às outras províncias. Porém, nunca chegou a ter metade das equipas na prova, como acontece nas últimas edições. As outras províncias têm desenvolvido um enorme esforço no sentido de alargarem a representação no Girabola, de modo a torná-lo mais nacional do ponto de vista geográfico, mas, em vão. Este aspecto quebra em parte algum interesse em relação ao torneio, quando disputado por um número reduzido de províncias. No Girabola 2009 tivemos sete províncias, em 2010 evolui-se para oito, o mesmo número de 2011, até que em 2012 aconteceu o passo para nove.

A edição que hoje arranca será disputada pelo mesmo número. Pois, o que aconteceu na prática foi o Kwanza-Norte e a Huila tomarem os lugares que no campeonato passado pertenceram a Cabinda e Zaire. Em muitos círculos paira o receio de um dia, caso as restantes províncias não invistam a sério, termos um campeonato só com equipas de Luanda, o que seria sinónimo de um total descalabro da modalidade no país. Pois, para quem presenciou as primeiras edições, o Girabola que se joga hoje já não é o mesmo, como se já não bastasse a ausência de atletas que fazem diferença.


HUAMBO

O Huambo dos Palancas, Mambrôa e Petro está hoje resumido ao Recreativo da Caála, podendo dizer-se o mesmo do Uíge do Futebol Clube, MCH (Construtores) e União Fabril. Por que razão o quadro sofreu tamanha inversão, tal carece ainda de um estudo sério e aprofundado. Em face de tudo isso, o certo é que o nosso campeonato vai ficando cada vez menos nacional. O menino da Lunda-Sul ou do Cunene, para citar só estas províncias, não tem memória de ter visto um jogo do Girabola ao vivo na sua província, tão só porque os emblemas locais, tal como Sassamba e Desportivo de Xangongo, há muito desapareceram do mapa. Talvez seja hora de os governos provinciais conjugarem esforços ou traçarem estratégias eficazes para a massificação do futebol local. 

Porque afinal há províncias que já não devem ficar sem um representante no Girabola, como esteve, por exemplo, a Huíla na edição passada e estará  Cabinda em 2013. Em resumo, o nosso campeonato ainda continua geograficamente mutilado.
in Jornal dos Desportos de 26.02.2013

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