sábado, 4 de fevereiro de 2012

O «04 de Fevereiro» na voz de um sobrevivente


"Na manhã do 4 de Fevereiro, os heróis quebraram as algemas"...

Amadeu Martins Calunga, um dos sobreviventes do 04 de Fevereiro foi enquadrado nos grupos dos heróis, no ano de 1958, através de Raul Deão, que liderava os encontros no Bairro do Rangel, em Luanda.

Estudante da 4ª classe, na Escola do São Domingos, época colonial, na altura muito jovem, mobilizou-se para a investida do 04 de Fevereiro, que marcou o início da luta armada de libertação nacional, em consequência de tudo o que ouvia em 1960, dos seus dirigentes, quanto ao que já se sucedia no antigo
«Congo Leopoldeville».

O grupo de que fazia parte, liderado por Raul Deão, tinha a previsão de atacar o Campo de aviação, facto considerado não oportuno porque o grupo que antecedeu o seu efectuou um ataque, e de seguida a cidade de Luanda, já estava envolvida em tiroteios.

Depois disso nós achamos que devíamos recuar e também o Paiva, que estava para vir atacar aqui não conseguiu, mas aquele que atacou no dia 04 de Fevereiro, não teve tempo de ir atacar no dia 11, eis a razão que seguidamente houve uma chacina e depois a preparação do dia 04 não foi tal como no dia 11, onde muitas pessoas apareceram mais por euforia porque realmente houve um 04 de Fevereiro, e caiu-nos mal”, contou.

Cinquenta e um anos depois, do ataque destes heróis, o sobrevivente Amadeu Martins Calunga considera que o 04 de Fevereiro foi legitimado pelo 11, porque neste dia morreu muita gente, parte desta gente levou a sua documentação a partir da qual, os portugueses, puderam constatar que eram de facto angolanos.


Aí foi caça ao homem, a PIDE estava bem reestruturada e começou apanhar e a matar as pessoas”, revelou.

Amadeu Martins Calunga adiantou que foi preso em 1961, inicialmente na cadeia de São Paulo, de seguida transferido para São Pedro da Barra, para depois acabar em Maquela do Zombo, onde ficou na missão católica, registado como jovem de menor de idade, por ter sido antes estrategicamente, cortada a idade devido o seu pequeno porte físico.

Posto na missão católica, a sua vida resumia-se ao trabalho, e as missas porque já havia estudado até a 4ª classe, da época colonial. Quanto aos demais presos do 04 de Fevereiro, Amadeu Martins, apontou Imperial Santana, que havia atacado a Casa de Reclusão, onde apanhou um tiro, o que provocou a sua detenção, mas mesmo assim não denunciou ninguém.


Mas devo dizer que depois do 04 de Fevereiro foi uma chacina, começaram a prender as pessoas, até os velhotes nas sanzalas, foi ali onde começou a guerra toda”, atestou.
in Rádio Nacional de Angola de 04.02.2012

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