quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um hotel 
com nome 
de rei



O reino do Bailundo, localizado na província do Huambo, marca a história e a tradição do povo angolano. O município do Bailundo, também conhecido como “a terra do rei Ekuikui”, possui uma extensão de 7 mil quilómetros quadrados e uma população de 237 mil habitantes repartidos por cinco comunas (Henque, Lunje, Bimbe, Luvemba e a sede municipal). O seu reino, fundado pelo rei Katiavala no século xv, antes designava-se Halavala. Pelo trono, segundo alegam os historiadores, já terão passado 35 soberanos, entre eles Katiavala I e II, Ekuikui I, II (o mais querido dos angolanos, um diplomata exímio símbolo da resistência colonial) e III, Numa I, II e III, Hundungulo I e II, Tchissende I, II e III, Tchissende I e II, Numa I e II, Mutu Ya Kevela (vice-rei), Jahulo I e II e Augusto Katchitiopololo (Ekuikui IV) e Armindo Kupendela (Ekuikui V), o actual rei (entronizado a 13 de Abril de 2012).
A cerimónia de três dias, segundo reportou na altura o Jornal de Angola, teve lugar na Ombala Mbalundo. Começou com a fogueira acesa pelo soba, para desejar sorte, a que se seguiu a “marcha dos mais velhos” (ohulukuta), que acompanhou o soberano e esposa (inaculo) em passeio pelas ruas da vila. Findo o cortejo, a comitiva regressou à residência oficial (elombe), para se dar início ao ritual de sacrifício. O soberano começou por oferecer farinha de milho à vaca, um momento repleto de simbolismo, porque se o animal rejeitasse a comida significaria que a escolha do soberano não havia sido legitimada. Com os pés sobre o animal, ainda moribundo, o rei invocou três nomes, sendo aceite o de Kupendela Ekuikui V. Depois, soberano e esposa sentaram-se em bancos de pele de vaca (okatchalo) e receberam conselhos do mestre de cerimónia (soba Ngambole), sobre os seus deveres e direitos. Foi ele que entregou ao novo rei a espada (onjelia), que simboliza o poder.
Segundo a tradição local, o soberano tem direito a acasalar com cinco mulheres (desde que tenha o consentimento da primeira), nunca poderá fazer justiça pelas próprias mãos e jamais deverá consumir carne de felinos de modo a evitar maus sonhos. Para marcar o fim da cerimónia, testemunhada por milhares de pessoas (entre as quais as autoridades governamentais, provinciais e tradicionais), o rei convidou os presentes a juntarem-se a ele numa dança, animada pelo som vibrante do batuque do grupo Katyavala, constituído apenas por mulheres.
Arquitectura e design inovadores

A inauguração do Hotel Ekuikui I (cujo nome presta tributo ao legado desse soberano), ocorrida no dia 24 de Janeiro, não teve a mesma pompa e circunstância. Mas também contou com o grupo de mulheres a dançar e cantar ao som dos batuques, que deram um colorido especial à cerimónia. E também lá estiveram, como não poderia deixar de ser, Armindo Francisco Kalupeteka (rei Ekuikui IV) e esposa, o soba, o governador da província (Fernando Faustino) e o ministro da Hotelaria e Turismo (Pedro Mutindi). Foi este último, após os discursos da praxe e o ritual da bênção católica, que teve a honra de cortar a fita e descerrar a placa comemorativa.
Tal aparato tem razão de ser. É que o hotel, localizado no coração do Huambo (cidade alta), é o seu primeiro quatro estrelas e dirige-se ao segmento de clientes com maior poder de compra e ao turismo de negócios (que até aqui apenas era servido pelo Hotel Roma Ritz, de três estrelas). Trata-se do primeiro projecto do grupo Opaia na área da hotelaria que, tal como confidenciou o fundador e presidente Agostinho Opaia, pretende abrir mais 20 hotéis em várias províncias do país (nomeadamente aquelas que registam o mesmo potencial de procura e escassez de oferta).
O Hotel Ekuikui I, cuja construção demorou dois anos, representou um investimento de 18 milhões de dólares (financiados pelo BAI) e gerou 96 postos de trabalho. A unidade, que se distingue pela sua arquitectura original (linhas redondas e janelas espelhadas) e o design de interiores repleto de artesanato local, tem uma capacidade de alojamento para 68 quartos e 2 suítes de luxo. Como facilidades, dispõe de dois restaurantes, um bar, uma piscina exterior e uma sala equipada para videoconferência. O hotel, gerido por Thierry Rainha, disponibiliza ainda internet sem fios gratuita, estacionamento privativo e serviço de massagem, lavandaria, babysitting, transfer para o aeroporto e rent-a-car.
No discurso de inauguração, o ministro Pedro Mutindi felicitou o grupo Opaia por esta iniciativa e mostrou-se confiante na expansão da rede hoteleira e no desenvolvimento do turismo no interior do país. “A modernização dos aeroportos e das vias rodoviárias e o facto de o comboio já estar a circular nas províncias, são factores que impulsionarão o crescimento da oferta turística”, realçou. Deu também a conhecer que a conclusão das obras de construção das escolas de formação de turismo nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla e Cabinda são outra prioridade do Ministério. Iniciativas com esta do grupo Opaia também darão certamente uma ajuda. Afinal, não é todos os dias que um ministro inaugura um hotel com nome de rei.   
in EXAME ANGOLA de 04.04.2013  

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